Bom mar, noite com lua, noite sem lua, muitos golfinhos, sol ao início do dia, nevoeiro cerrado a partir daí, assim se poderia resumir esta viagem do Moby Dick II de Leixões para a Galiza (15 horas de viagem entre as 23h00 do passado sábado e as 14h00 de Domingo), mas muito ficaria por contar.
Largamos de Leixões às 23h15 de sábado (uns vão para as festas e outros vão para os copos, Saturday night…, quase nenhuns vão para o mar…), Tudo pronto, ou quase…A iluminação de proa estava com humores, acendia, não acendia… um primeiro teste do Divino… Mãos à obra, chaves na mão, balde debaixo para não caírem peças, desmonta-se o bicho e olha-se para as suas entranhas. Nada que não se resolva com uns apertos à boa moda portuguesa e problema resolvido. A hora era mesmo de largar pois a jornada era longa!
Subida a vela grande com um rizo (pelo menos ficamos mais visíveis pois o vento pouco ajudaria ou nada…), saímos do porto no meio dum tráfego intenso, rondamos as boias de sinalização das obras de prolongamento do novo molhe (afinal dizem as mais línguas que vai passar outra vez para os 300 m de comprimento contra a informação tornada pública que ficaria nos 200m para reduzir o impacto nas ondas das praias de Matosinhos), e rumamos a norte seguindo a rota previamente delineada no Navionics (abençoado…)
Quarto crescente quase Lua Cheia, luz de “borla” se bem para a popa e não para a proa que seria mais conveniente, um olho no rumo, outro olho no escuro há “caça” dos aparelhos de pesca. Uma aragem na ordem dos 4 a 5 nós do quadrante norte e nordeste se fez sentir e a humidade também, que tudo molhou. Mais uma camada de roupa se impôs…
E se a escuridão no mar era lei, a linha de costa mantinha-se sempre iluminada e entre as 12h00 e as 12h30 , com inúmeros foguetórios das festas populares. Viva o verão!
Às 2 horas e pico da manhã a Lua se pôs, a escuridão cresceu e tudo envolveu. Por 3 vezes passamos muito próximos de aparelhos de pesca com as respetivas boias que se evitaram in extremis. Em comparação com outras viagens anteriores, talvez por ser sábado, o número de aparelhos que visualizamos foi muito menor.
A um determinado momento desta fase da viagem, estranho ruído se associou ao motor, diagnosticado com a falta de lubrificação pela água do veio da hélice na passagem do bucim (na passagem do veio que sai do motor, atravessa o casco e faz a hélice girar). Problema resolvido com um simples aperto manual no bucim, largando a lágrima de água, tão necessária à necessária lubrificação. Motor outra vez na velocidade de cruzeiro (2.100 rpm) e continuação da navegação!
Só por volta das 4 horas e pico da manhã é que alguma luz começou a aparecer a nascente, melhorando a visibilidade do mar a estibordo, dando um pré-aviso que a alvorada iria acontecer.
Mas neste período de escuridão total, o Deus dos mares resolveu dar-nos como companhia muitos golfinhos entre o norte da Póvoa e Esposende que passaram a surfar as ondas do Moby Dick durante quase uma hora em alegre e intensa atividade. Pela primeira vez ouvi um som emitido por estes adoráveis criaturas e pela primeira vez levei uns salpicos valentes de água provocados pelas suas habilidades no nosso costado e proa!
E já com Viana do Castelo à vista, a aurora da manhã se revelou, tendo o nascer do sol já acontecido com a Serra de Santa Luzia pelo través. É uma dádiva assistir a tal espetáculo, é o momento porque se espera toda a noite! Depois de uma noite escura, fria e húmida… é de imaginar a felicidade… Os primeiros raios de sol já nos aquecem (seguramente a alma primeiro…), renovando o ânimo e abrindo o apetite… Os consumíveis a bordo continuaram a sair, uma cervejita aqui, outra acolá, confortando o estômago e aquecendo a alma…
E nestes primeiros momentos de nevoeiro, quando tudo parecia limpo de "minas" à nossa frente, passamos por cima de um cabo grosso que passou debaixo do casco visualizado a bombordo! Cabo, cabo! O motor rapidamente se colocou ao ralenti e o cabo lentamente deslizou da meia nau para a popa afundando, liberto… visualizamos umas boias a estibordo e outras a bombordo bem afastadas (a cerca de 25 metros ou mais seguramente) mas nada que indicasse a presença de tal cabo. Como a corrente nos empurrava para sul na direção dos aparelhos de pesca, a alternativa foi andar a avante devagar até termos a certeza que estávamos livres de perigo. Assim foi felizmente. Triste é o modo como se deixam cabos assim sem sinalização ou sinalização sofrível. A fama que corre por milhares de embarcações de recreio que atravessam de norte para sul e de sul para norte as nossas águas com imensos aparelhos de pesca e muitas vezes mal sinalizados, é mais que justificada!
Passados estes momentos de stress, só restava continuar, continuar! Nevoeiro, nevoeiro, nevoeiro… e aquelas maravilhosas vistas das montanhas da Galiza e das Ilhas Cies ao longe (e de perto) só na memória se encontravam…
Chegados à Boia do cabo Sileiro, pouco já faltaria para mudar o rumo para leste para entrada no canal de navegação da Ria de Vigo e por aí fora… As ilhas Cies só seriam vistas praticamente pela popa, portanto já bem dentro da Ria de Vigo onde o sol e a temperatura nos deram as boas vindas com Vigo dum lado e Cangas / Moaña do outro, ao longe… Navegação à vela, à popa, foi então possível.
E nesta última fase do percurso por comunicação por VHF com os amigos do Orion II, saídos de Baiona, ficamos a saber que iam também no nosso rumo, mais à frente. Quase já em Moaña os dois graciosos veleiros se juntaram, facto que foi como uma cereja em cima do bolo no fim desta viagem Leixões-Moaña. Já por volta das 7h00 da manhã tínhamos tido notícias de outro amigo do KOI, que estava a sair da Póvoa com destino a Viana como etapa intermédia para a Galiza. Na chegada a Moaña voltamos a ter notícias da sua chegada a Viana debaixo duma boa ventosga…
Galicia nos encanta…
nota: na hora desta publicação mais um amigo a sair de Leixões para uma montada noturna até às Rias Baixas!
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