sábado, 25 de março de 2023

2013, novembro, para recordar...de Vigo a Leixões, Bogavante, actual Moby Dick

 
Repetição de post neste blog em novembro de 2013...
Como o tempo passa...mas como é bom recordar...
A esse post dei o título Dia Grande...

Grande em tudo!
Na duração da viagem, 14 horas, na distância, 72 milhas náuticas, nas condições meteorológicas, mareação em metade da distância contra vento e vaga e debaixo de chuva, na camaradagem da tripulação, mas grande em especial pela chegada do Bogavante ao seu porto de destino, Leixões!
O dia começou cedo em Leça às 5:00 da manhã, ponto de encontro dos amigos Hugo Reprezas, António Bento, Paulo Lima e Francisco Alba, que foram para Vigo para a trazer o First 300 Spirit. A previsão do tempo era de vento fraco que rondaria às primeiras horas do dia para o oeste com rondagem para noroeste ao início da tarde, ondulação na ordem dos 3 metros a cair...
E às 7.15h da manhã estava o Bogavante a sair da marina do Clube Náutico de Vigo, preparado para a grande odisseia. Largadas as amarras e navegadas as primeiras águas até ao primeiro way-point  logo na saída da marina onde as ilhas Cies já se avistavam a cerca de 7,5 milhas. O dia estava com nuvens, algumas pingas, boa visibilidade, tudo indiciava que profecia meteorológica se iria confirmar... Motor nas 2.500 rotações, 6 nós rumo a oeste pela ria fora.
E logo aqui se começou a comer o bolo feito pela querida esposa deste relator, e a seguir a tortilha à espanhola da sua querida mãe Augusta feita para uma tripulação que na sua mais que avalizada opinião e autoridade de quem tem 85 anos, afirmava... com um tempo destes? vocês não tem juízo...
A jornada era longa e era preciso tratar do corpo...
 

Decorridas 1 ou 2 milhas, um vento de sudoeste se fez sentir, justificando a navegação à vela. Mas tão depressa se colocaram as velas ao vento, como o tempo se fez mais escuro e o vento subiu, e a rebentação se avistava em traços brancos lá fora...
Mais uns minutos e rapidamente se verificou que à vela eramos obrigados a tomar um rumo muito fora da rota planeada. Entre chuvisco, vento fresco e crescente, não havia alternativa senão arrear as velas e continuar a motor, felizmente um 18cv Volvo Penta de 3 cilindros, bem dimensionado para o mar e vento que se iria encontrar pela frente.
 
 
Em frente ao acesso para a baía de Bayona, já se avistava o Cabo Silleiro e já se sentia bem a ondulação de noroeste a que se somava a vaga tocada pelo vento de sudoeste, transformando a superfície numa coisa meio tola que abanava o Vogavante por todos os lados e o fazia saltar e cair com estrondo na descida da vaga. Quando o S. Pedro parava para descansar aparecia Neptuno a mandar a enxurrada a partir da proa... Ninguêm se podia queixar da falta de água. Já do vento...ou melhor do quadrante é que a tripulação não estava muito satisfeita: não havia remédio senão progredir a motor. Rondado o Cabo Silleiro e a cerca de 2 milhas da costa, o rumo era para sul (180º).
De Angola, António Soares fazia o acompanhamento telefónico possível da odisseia afirmando que no windguru o vento ia rondar para oeste e depois para norte. Pois, pois, qual oeste?
Até Viana foi sul, vaga, chuva, muita chuva, visibilidade mais que reduzida por vezes, uns curtos intervalos que serviam para uma bucha e esticar as pernas um pouco, vento que por vezes subia a 15 nós (de acordo com registo meteorológica da zona), fresco. A mínima claridade para oeste fazia renascer a esperança da rondagem do vento. António Bento, com a sua experiência desfazia logo a esperança "não me parece...". Que estranha gente esta... Ai se as nossas mãezinhas nos vissem...
Condições algo exigentes para o corpo, mas seguras e mais que mareáveis para o first 300 que se portou lindamente, dando provas que o seu motor é muito bem dimensionado e do seu design que possibilita uma navegação com bom andamento e leme preciso. Inspira e respira confiança...
 
 
Até Viana foram 7 horas de navegação a 4,8 nós de média. Eram 15:15 h quando se decidiu entrar no porto de Viana para pairar por uns minutos no recato da sua bacia, dando folga ao corpo, vazar o depósito suplementar de 20 litros no depósito da embarcação (terá gasto menos de 2/3 do depósito, cerca de 18 litros nestas 7 horas de navegação a 2400 rotações, o que dá cerca de 2,5 litros/hora, média a confirmar), atacar os panados e rissóis, beber, colocar roupa mais seca, preparar a navegação noturna que se esperava até Leixões. Soube bem este break (só faltou o café).
 
 
Uns minutos a pairar no plano reconfortaram o corpo e a alma. A esperança de vento favorável já se tinha ido quando o noroeste subiu, fresco e bom. Navegação à vela finalmente! Pano em cima, saída do porto às 15:30 e uma bolina para fora para apanhar a rota para Leixões.
Viva o vento!
 
 
Navegação sossegada com um rizo à popa e genoa toda cheia,  7 a 8 nós de velocidade permitiam a cada minuto melhorar a média global da viagem. Com Esposende pelo través, a noite caiu e o mar tornou-se mais sossegado, alisado pelo noroeste, só se fazendo sentir a ondulação que ajudava o Bogavante a progredir. Uma noite bonita com algum luar e boa visibilidade. Perto da Póvoa o vento começou a cair, justificando-se ligar o motor e continuar a progressão acima dos 6 nós.
Na aproximação a Leixões, a admiração pela inexistência de qualquer sinal luminoso na monoboia ou na boia de sinalização do adutor (deve estar nos avisos aos navegantes...).
Finalmente chegada a Leixões às 22:15, dando razão ao Paulo Lima que logo de manhã lançava o prognóstico de chegada por volta das 22:00 mesmo sem saber do vento que iria apanhar pela proa.
Uma viagem longa de 14 horas para fazer 72 milhas, dura para o corpo mas rica para a alma.
Aos amigos António Bento, Hugo Reprezas e Paulo Lima, um agradecimento pela companhia e partilha da sua experiência.
Um dia grande, um dia para não esquecer.
Finalmente o sucessor do Moby Dick está em casa!
 
 

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