quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

In memoriam Alberto Neves

Testemunhos de João Xavier, Nuno Almeida, Pedro Fernandes e João Reis

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O Alberto foi o meu mestre na vela. 

Recordo a simpatia com que, desde a minha primeira aula, me recebeu a bordo do seu Anthinea e a muita paciência que teve nas seguintes. Ensinou-me e encorajou-me a não desistir perante as orças que me deixavam nos ferros ou as cambadelas descontroladas. Graças a ele, um adulto (e já entradote) como eu, perfeito desconhecedor do mar, conseguiu navegar sozinho (mal, mas conseguiu).

Tenho andado afastado do mar e já não encontrava o Alberto há muito tempo, mas hoje, ao saber do seu desaparecimento, deu-me uma imensa saudade dos momentos que passámos juntos, enfrentando vagas que, para mim, eram assustadoras e, para ele, simplesmente um bocadinho mais desafiantes. 

Lembro-me de o ouvir dizer: “Só há duas coisas péssimas para um barco: a humidade e o mau humor.” Não sei se alguma vez o Anthinea sofreu de humidade (acho que não), mas sei que nunca conheceu o mau humor, porque isso não era possível na presença do Alberto.

Há muitos anos, enviou-me um texto sobre o significado do nome Anthinea. Não consigo encontrar esse texto, mas lembro-me que, entre outras coisas, falava da importância da entreajuda, no mar ou em terra. Não eram só palavras. Quando, já no meu próprio barco, eu tinha problemas de manutenção que não conseguia resolver, o Alberto aparecia para dar uma sugestão, ajudar e até, só porque achava que era preciso, subir ao mastro.

Encontrei algumas fotos, tiradas em momentos mais calmos, que ilustram alguma da alegria com que o Alberto andava no mar, em dias sempre... fantásticos!

Os dias serão menos fantásticos sem a tua presença na marina, querido comandante.

João Xavier

(Enalus)


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Foi com enorme dor que recebi a noticia da partida do Alberto. Tenho saudades das tardes entusiasmantes  a bordo do Anthinea… riamo-nos ao sabor do vento…eramos uma equipa.

Um amigo, o meu Mestre!!

Partiu muito cedo.

Até Sempre Comandante

Nuno Almeida (B.Serious)



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Adeus Comandante!

O Alberto Neves foi uma daquelas pessoas que nos reorienta o rumo da nossa história. Sem ele não saberia hoje o que era o mar “lá ao fundo”, um barco e como tratar dele e a liberdade que me trouxe. Foi pela mão dele que conheci os Amigos da Vela, no primeiro passeio “ao fim do mundo”. As viagens à Póvoa foram algumas  mas sempre magníficas. 
A última vez que estive no Anthinea, disse-lhe: “ é impressionante como eu entro neste barco e sinto que entrei no meu próprio”. Conheço-o tão bem como o meu. Sei onde está a manivela, o canivete amarelo, a bandeira, os coletes, as escotas azuis e brancas lavadas com Soflan. O que desligar, amarrar, estivar. Nós, os tipos dos barcos somos meios obsessivo-compulsivos: os mesmos nós, as mesmas rotinas, os mesmos truques, todas as santas vezes que entramos no barco. É o que nos dá segurança, uma defesa que nos permite aproveitar tranquilamente o que há fora delas. Isto também me ensinou o Alberto. Tudo pensado, nada ao acaso. Um marinheiro excecional, o Amigo com quem ficava horas a falar, sempre que estava na marina. “O importante numa viagem é chegar, a seguir chegar bem, se for rápido tanto melhor”. O meu grande mentor e mestre do mar. Esta partida sem despedida deixou-nos a todos, com certeza, surpreendidos, mas isso também faz parte da sua assinatura: a sua vida privada era isso mesmo, e muito privada. 
Ficam as memórias e uma coisa em comum que sempre me fará recordá-lo: o seu primeiro barco à vela, é também o meu, o "Le Petit Prince". 

Até sempre, Amigo!

Pedro Fernandes (Le Petit Prince)

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Nó de faca
O nosso Amigo Alberto está presente na vida de muitos de nós de uma forma que nem ele próprio deveria imaginar.
Desde a primeira entrada a bordo do Anthinea, ainda sem saber os truques para um bom lais de guia, passando pelos pormenores necessários a uma vida a bordo, tantas vezes temperada com o café feito ao largo de Matosinhos.
Recordo um regresso da Póvoa com vários momentos de “surf” em que, subitamente, o silêncio a bordo deixou transparecer o nosso receio de uma atravessadela. Silêncio quebrado com o tom de voz sereno que nos tranquilizou dizendo: “ vá, firme no leme e não olhes para trás. Quem manda no barco são vocês e não o mar”.
Recordo o humor com que, enquanto nos semeava o respeito pelo mar e pelos pequenos cuidados que nada custam para o manter limpo, soltava um “vejo tanta gente preocupada em deixar um ambiente melhor para os filhos, mas não vejo ninguém preocupado em deixar filhos melhores para o ambiente”.
Recordo os passeios em dias frios e, por vezes, com direito a chuveiro de água salgada em que quem fosse apanhado desprevenido sabia que havia sempre a bordo mais um impermeável ( ou um par de luvas para os mais esquecidos ).
A imagem acima é de um desses dias, bem frio por sinal ( com direito a gelo à chegada ao Anthinea pela manhã ) e que ficou ( também ) marcado pela alusão à utilidade que pode ser dada a um garfo em dias assim.
Até sempre, Comandante!

João Reis

3 comentários:

  1. Querido Alberto, obrigada pelas maravilhosas e belas navegações que partilhamos ao longo de tantos anos nos nossos veleiros e no nosso último Anthinea que tanto prazer nos deu a trazer para Portugal! Foi com muito orgulho que fui tua companheira, amiga e marinheira de tantas navegações.
    Saudade
    Ana Paula Dias

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  2. Caro Berto é já com saudades das nossas conversas e dos teus conselhos sobre os vários obstáculos que a vida nos põe. Contava sempre contigo para me aconselhar. Tenho grande admiração por ti, pelo que caracter pelos valores que te nortearam na vida pela pessoa que foste. Merecias que a vida te tivesse tratado melhor. Descansa em paz companheiro.
    Eurico Neves

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